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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Antero de Quental

A M. C.

 

No Céu, se existe um céu para quem chora,

Céu para as mágoas de quem sofre tanto...

Se é lá do amor o foco, puro e santo,

Chama que brilha, mas que não devora...

 

No Céu, se uma alma nesse espaço mora,

Que a prece escuta e enxuta o nosso pranto...

Se há pai, que estenda sobre nós o manto

Do amor piedoso... que eu não sinto agora...

 

No Céu, ó virgem! findarão meus males:

Hei-de lá renascer, eu que pareço

Aqui ter só nascido para dores.

 

Ali, ó lírio dos celestes vales!

Tendo seu fim, terão o seu começo,

Para não mais findar, nossos amores.

 

 

Antero de Quental, Sonetos Completos

Prémio Nobel da Literatura

A ÁRVORE E A NUVEM (1962)

 

Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,
com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.
Leva um recado. Da chuva arranca vida
como um melro ante um jardim de fruta.


Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.
Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,
à espera, como nós, do instante
em que flocos de neve floresçam no espaço.

 

Tomas Tranströmer

 

[Encontrado aqui]

Prémio Eduardo Lourenço 2011

Fui Sabendo de Mim

 

Fui sabendo de mim 

por aquilo que perdia 

pedaços que saíram de mim 
com o mistério de serem poucos 
e valerem só quando os perdia 

fui ficando 
por umbrais 
aquém do passo 
que nunca ousei 

eu vi 
a árvore morta 
e soube que mentia 

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"