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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

HOMEM DA GUARDA

 

Faz hoje meio século de existência este velho amigo, mas não amigo velho. Dá-se a coincidência de termos nascido na mesma freguesia e, dizem os mais velhos, ter havido lá muito para trás antepassados comuns. No entanto, aparece aqui não por esse motivo, mas por continuar a ser motivo de orgulho para todos os guardenses, não só pelo trabalho em prol da cidade, leia-se da cultura, não só pela obra que tem já publicada, mas também porque segunda-feira à noite vai receber das mãos da Sra. Ministra da Cultura o Diploma e Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura. Não é para todos! A sua obra fala por si e assim o reconheceu a Ministra da Cultura. Por cá, infelizmente, continua a ser pouco valorizado o seu trabalho. 

Abraço de parabéns, caro amigo!

 

Fica um poema:

 

Há dez anos
mais ano menos ano
decidi que escreveria
um poema
por dia
na Sé Catedral da Guarda.

A Sé é um navio de pedra 
encalhado
pousado
numa cidade medieval 
que nos guardava dos espanhóis.
Prometi escrever 
um poema
por dia
dentro do navio de granito
naufragado
parado
no centro de uma terra 
que hoje aguarda os espanhóis.
Prometi mas não cumpri.
Escrevi um único poema
dentro do templo sem tempo.
Ao segundo dia desta aventura
sentado no convés do navio
a caneta caiu-me da mão
o corpo enregelou
e ficou imóvel
num barco imóvel.

Ainda lá estou.
Paralisado pelo frio
em estado de sólida quietude.
Um dia (amanhã, talvez)
o meu corpo de gelo
partir-se-á em mil pedacinhos.
A Guarda 
que antes acolhia a Sé Catedral
e viaja agora a bordo do navio
de pedra
nem sequer o saberá.

30/12/10
Américo Rodrigues

[http://cafe-mondego.blogspot.com/2010/12/ha-dez-anos-mais-ano-menos-ano-decidi.html]

 

Brancura

 

 

Feria o sol a brancura quente

daquele friso repleto de harmonia

e a fúria do vento sem gente

alegrava a singeleza certa do dia.

 

Nos laivos das pétalas minúsculas

luzia um lampejo de emoção

e o reflexo das aquáticas gotículas

projectava um arco-iris de ilusão. 

 

(JM - abril 2011)

 

Camélia

 

Lábios rubros de mulher

ávidos de sensações,

desejos quentes de querer,

promessas de corações

 

paixão rubra, rubra cor

desafios de sonho irreais,

vontade, garra, sabor,

ânsias de ser muito mais.

 

2011 - JM 

Dispersão

 
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
 
..............................
 
Mário Sá-Carneiro