João Tordo - Café Concerto
31 de Março
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Há dias o jornal "A Guarda", pela voz do amigo Padre Francisco Barbeira, pediu-me umas palavras sobre o Dia Mundial da Poesia. Disse-as, mas claro, se fosse hoje di-las-ia de outra maneira. Para registo futuro podem ser lidas aqui. Espero que façam alguém ler um pouco de poesia e ....
Essa mulher vestida de escuro,
sentada à porta de casa
tinha gravada no olhar a espera.
Esperavas o quê, boa mulher?
A brisa do vento,
O nascer do pensamento,
O calor da tarde,
A presença dos filhos ausentes.
(Afinal o que sentes?)
Esperavas na mesma
porque a tua espera vinha de sempre:
estava-te no sangue da aldeia.
Germinava-te na ideia
como as sementes que deitavas à terra
com o mesmo carinho das tuas mãos escuras
acariciando as feridas leves dos teus filhos
limpas com o tacto dos teus lábios.
Hoje desabitaste a casa
que parece um deserto sombrio:
a porta fechou-se
e a tua espera está em ti,
mulher vestida de escuro.
JM (21.03.2011)
[Poema lido ontem na sessão da BMEL, "verso a verso se guarda a poesia na Guarda! Foi bom rever e aprender com bons amigos!]
http://olhares.aeiou.pt/flores_silvestres_foto480750.html]
Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera, uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.
Miguel Torga
Se eu pudesse havia de... de...
transformar as palavras em clava!
havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressonante!
Sem música, como um gesto,
uma pancada brusca e sóbria.
Para quê,
mas para quê todo o artifício
da composição sintáctica e métrica,
este arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras: pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo!
Vejo, admiro, desejo?
Ou não... ou sim.
E, como isto, continuando...
E gostava,
para as infinitamente delicadas coisas do espírito
(quais? mas quais?)
em oposição com a braveza
do jogo da pedrada,
da pontaria às coisas certas e negadas,
gostava...
de escrever com um fio de água!
um fio que nada traçasse...
fino e sem cor... medroso...
Ó infinitamente delicadas coisas do espírito...
Amor que se não tem,
desejo dispersivo,
sofrimento indefinido,
ideia incontornada,
apreços, gostos fugitivos...
Ai, o fio da água,
o próprio fio da água poderia
sobre vós passar, transparentemente...
ou seguir-vos, humilde e tranquilo?
[Exposição a ver no Café Concerto do TMG]