Sempre distante amor e perto anseio,
e triste descambar do adeus e a ida
em promessa que apenas prometida
tanto levou do ser que o fez alheio.
De outra morte morrer, opõe receio?
Morre um morto após si, já em seguida
à perda ao largo de alma tão perdida?
Mortos são os que morrem vida em meio.
São os vivos de amor, que amor esquece,
e, súbito, na morte amadurece
antes de tudo mais que vai morrendo.
Feridos numa dor que está vivendo
no arrastar em gemido e em passo tardo,
ter sido, mais que ser, terrível fardo.
Maria Ângela Alvim
Ai quem me dera, terminasse a espera E retornasse o canto simples e sem fim... E ouvindo o canto se chorasse tanto Que do mundo o pranto se estancasse enfim
Ai quem me dera percorrer estrelas Ter nascido anjo e ver brotar a flor Ai quem me dera uma manhã feliz Ai quem me dera uma estação de dor
Ah! Se as pessoas se tornassem boas E cantassem loas e tivessem paz E pelas ruas se abraçassem nuas E duas a duas fossem ser casais
Ai quem me dera ao som de madrigais Ver todo mundo para sempre afim E a liberdade nunca ser demais E não haver mais solidão ruim
Ai quem me dera ouvir o nunca-mais Dizer que a vida vai ser sempre assim E finda a espera ouvir na primavera Alguem chamar por mim...
Passamos pelas coisas sem as ver, gastos, como animais envelhecidos: se alguém chama por nós não respondemos, se alguém nos pede amor não estremecemos, como frutos de sombra sem sabor, vamos caindo ao chão, apodrecidos.
O lançamento foi hoje à tarde, com o Café Concerto cheio, com algumas palavras de circunstância, algumas delas sonhadoras. Mas que é a vida sem sonho? Como lembrou alguém, o TMG também foi sonho e hoje é realidade: porque não pensar que os sonhos de hoje podem ser realidades amanhã? A frase do Dr. Álvaro Guerreiro "Foram só cinco anos e são já cinco anos!" resume bem o que se pode dizer do percurso desta criança de 5 anos, mas que já atingiu a maturidade. Falta a emancipação que é um dos desejos do seu Director e grande impulsionador desta nossa referência cultural. VALE!
"Pode-se viver sem ler ? Quem não lê não entra no rio da história e quem lê é como o mar onde desaguam muitos rios. Comprar um livro é sempre como a primeira vez, como quem marca um encontro para receber uma confidência. Uma casa sem livros está desabitada, é uma pensão... Os livros são janelas. Hoje vou abrir uma delas. "
Vasco Pinto de magalhães, Não há soluções, há caminhos
Não, não é cansaço... É uma quantidade de desilusão Que se me entranha na espécie de pensar. É um domingo às avessas Do sentimento, Um feriado passado no abismo... Não, cansaço não é... É eu estar existindo E também o mundo, Com tudo aquilo que contém, Como tudo aquilo que nele se desdobra E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
[Ontem nas navegações vespertinas dominicais, encontrei um poema belo, emotivo e genuíno. Dele saiu este texto que não tem comparação com o original, mas que também é emotivo.]
Estou cansado, é claro, Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado. De que estou cansado, não sei: De nada me serviria sabê-lo, Pois o cansaço fica na mesma. A ferida dói como dói E não em função da causa que a produziu. Sim, estou cansado, E um pouco sorridente De o cansaço ser só isto — Uma vontade de sono no corpo, Um desejo de não pensar na alma, E por cima de tudo uma transparência lúcida Do entendimento retrospectivo... E a luxúria única de não ter já esperanças? Sou inteligente; eis tudo. Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto, E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá, Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.