Letras a esmo
Texto já um pouco atrasado que se pode ler aqui.
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Texto já um pouco atrasado que se pode ler aqui.
Aqui estou eu
Sou uma folha de papel vazia
Pequenas coisas
Pequenos pontos
Vão me mostrando o caminho
Às vezes aqui faz frio
Às vezes eu fico imóvel
Pairando no Vazio
As vezes aqui faz frio
Sei que me esperas
Não sei se vou lá chegar
Tenho coisas p'ra fazer
Tenho vidas para a acompanhar
Às vezes lá faz mais frio
Às vezes eu fico imóvel
Pairando no vazio
No perfeito vazio
Às vezes lá faz mais frio
(lá fora faz tanto frio)
Bem-vindos a minha casa
Ao meu lar mais profundo
De onde saio por vezes
Para conquistar o mundo
Às vezes tu tens mais frio
Às vezes eu fico imóvel
Pairando no vazio
No perfeito vazio
Às vezes lá faz mais frio
No teu peito vazio
Xutos e pontapés
http://www.youtube.com/watch?v=AHiaQ-bJBkY&feature=player_embedded
[Não é nenhum espanto de letra, mas a música tem o dom de criar nostalgia(!) e acima de tudo, às vezes, e precisamente um perfeito vazio: "às vezes lá faz mais frio / no meu peito vazio"]
Os dedos entreabertos
deixam passar a luz de ser;
coam o tempo dos raios de sol,
outonais e desmaiados,
nas folhas amarelecidas
ou nos galhos quase nus,
- ossos negros do parecer;
pintores da decadência,
pensamentos de pré-inverno
reflectem alguma decência,
nos quadros do inferno.
Cidade soprada a chuviscos
e lavada em ventanias:
assinam violentos rabiscos,
apagam mágoas e alegrias.
05.11.2009
JM
Entre o céu azul, com algumas nuvens, e os ramos já despidos, os restos das folhas coloridas prenunciam o inverno iminente.
Uma Devastação Inteligente
[Sara F. Costa nasceu em1987 em Oliveira de Azemeis.]
4 - Recordare
Recordare, Jesu pie, Lembra-te, ó Jesus piedoso,
Quod sum causa tuae viae, Que sou a causa da tua caminhada,
Ne me perdas illa die. E não me condenes naquele dia.
Quaerens me, sedisti lassus Procurando-me, sentaste-te cansado
Redemisti Crucem passus E sofrendo redimiste-me na cruz
Tantus labor non sit cassus. Que tanto trabalho não seja em vão.
Juste judex ultionis, Juiz justamente castigador,
Donum fac remissionis Concede-me o dom da remissão
Ante diem rationis Antes do dia da razão
Ingemisco tamquam reus Choro e gemo como um réu
Culpa rubet vultus meus A culpa cora as minhas faces
Supplicanti parce, Deus. Poupai este suplicante, ó Deus.
Qui Mariam absolvisti, Tu, que absolveste a Maria,
Et latronem exaudisti E ouviste o ladrão,
Mihi quoque spem dedisti. Também me deste esperança.
Preces meae non sunt dignae Minhas preces são indignas
Sed tu bonus fac benigne, Mas tu, bondoso, sê benigno,
Ne perenni cremer igne. Para que não abrase no fogo eterno.
Inter oves locum praesta Dá-me lugar entre as ovelhas
Et ab haedis me sequestra E afasta-me dos bodes
Statuens in parte dextra. Sentando-me à Tua direita.
5 - Confutatis
Confutatis maledictis Condenados os malditos
Flammis acribus addictis Lançados às chamas devoradoras
Voca me cum benedictis Chama-me juntamente com os benditos
Oro supplex et acclinis Suplicante e prostrado,rogo
Cor contritum quasi cinis Com o coração contrito, quase em cinzas
Gere curam mei finis. Toma conta do meu fim.
6 - Lacrimosa
Lacrimosa dies illa Dia de lágrimas aquele
Qua resurget ex favilla Em que os ressurgidos das cinzas
Judicandus homo reus. Serão julgados como réus.
Huic ergo parce, Deus A este poupa, ó Deus
Pie Jesu Domine Piedoso Senhor Jesus
Dona eis requiem, Amen. Dá-lhes repouso. Amén.
[*Dies irae é um hino do século XIII, escrito talvez por Tomás de Celano e musicado, entre outros, por Mozart. Tentativa de tradução minha.]
SEQUENTIA
1 – Dies irae
Dies irae, dies illa Dia de ira, aquele dia
Solvet saeclum in favilla Em que o mundo se desfará em cinzas
Teste David cum Sibylla Assim testemunham David e Sibila
Quantus tremor est futurus, Quanto temor sobrevirá,
Quando judex est venturus, Quando o Juiz chegar
Cuncta stricte discussurus. Julgando tudo com rigor.
2 - Tuba mirum
Tuba mirum spargens sonum A admirável trombeta difundindo o som
Per sepulcra regionum, Pela região dos sepulcros,
Coget omnes ante thronum. Juntará todos diante do trono.
Mors stupebit et natura A morte espantar-se-á, e a natureza
Cum resurget creatura, Com as criaturas ressurgirá,
Judicanti responsura. Para responder ao juízo.
Liber scriptus proferetur, Um livro será trazido,
In quo totum continetur, Em que tudo está contido,
Unde mundus judicetur. E por ele o mundo será julgado.
Judex ergo cum sedebit, Logo que o juiz se sentar,
Quidquid latet apparebit: O escondido, aparecerá:
Nil inultum remanebit. Nada ficará impune.
Quid sum miser tunc dicturus? O que é que eu, miserável, direi então?
Quem patronum rogaturus, A quem pedirei protecção,
Cum vix justus sit seccurus? Se só o justo estará seguro?
3 - Rex tremendae
Rex tremendae majestatis, Rei, de tremenda majestade,
Qui salvandos salvas gratis, Que ao salvar, salvas gratuitamente,
Salva me, fons pietatis. Salva-me a mim, fonte de piedade.
[Dies irae é um hino do século XIII, escrito talvez por Tomás de Celano e musicado, entre outros, por Mozart. Tentativa de tradução minha.]
Os mortos! Que prodigiosamente
E com que horrível reminiscência
Vivem na nossa recordação deles!
A minha velha tia na sua antiga casa, no campo
Onde eu era feliz e tranquilo e a criança que eu era...
Penso nisso e uma saudade toda raiva repassa-me...
E, além disso, penso, ela já morreu há anos...
Tudo isto, vendo bem, é misterioso como um lusco-fusco...
Penso, e todo o enigma do universo repassa-me.
Revejo aquilo na imaginação com tal realidade
Que depois, quando penso que aquilo acabou
E que ela está morta,
Encaro com o mistério mais palidamente
Vejo-o mais escuro, mais impiedoso, mais longínquo
E nem choro, de atento que estou ao terror da vida...
Como eu desejaria ser parte da noite,
Parte sem contornos da noite, um lugar qualquer no espaço
Não propriamente um lugar, por não ter posição nem contornos,
Mas noite na noite, uma parte dela, pertencendo-lhe por todos os lados
E unido e afastado companheiro da minha ausência de existir...
Aquilo era tão real, tão vivo, tão actual!...
Quando em mim o revejo, está outra vez vivo em mim...
Pasmo de que coisa tão real pudesse passar...
E não existir hoje e hoje ser tão diverso...
Corre para o mar a água do rio, abandona a minha vista,
Chega ao mar e perde-se no mar,
Mas a água perde-se de si-própria?
Uma coisa deixa de ser o que é absolutamente
Ou pecam de vida os nossos olhos e os nossos ouvidos
E a nossa consciência exterior do Universo?
Onde está hoje o meu passado?
Em que baú o guardou Deus que não sei dar com ele?
Quando o revejo em mim, onde é que o estou vendo?
Tudo isto deve ter um sentido — talvez muito simples —
Mas por mais que pense não atino com ele.