Da Mafalala estorva-nos
a memória dos gregos
É um anjo negro segredado
e assim goza
de asas sussurrantes
Desce por entre
intervalos do vento
e findo o voo refunde
o modelo de cera
Como qualquer pássaro faz ninho
ele no vestido das mulheres
Sem céu fixo
exala a plumagem
da comum nudez interrompida.
Dei-vos cartas e rosas,
nunca me deram cartas e rosas;
apresentei-vos Beethoven,
nunca me apresentaram a ninguém;
dei-vos chocolates,
nunca me deram uma ameixa;
ao papá, dei-lhe versos,
deu-me um soco da última vez que o vi.
Ai! Vou procurar outra família, chega!
Só a poesia demora. Mas há um pacto entre nós: "sempre que estejas sóbrio e puro", disse-me ela aos 25 anos, "serei tua".
E eu não estou!
Tenho pouco dinheiro, poucos amigos - morrem com uma infidelidade quase descarada, e deixam-me cada vez mais só. E não resisto a saber como estão os outros, a ir vê-los, antes que me deixem, também.
(Escritor português, pseudónimo de Dinis Albano Carneiro Gonçalves, nasceu a 11 de Março de 1940, em Braga. Viveu em Moçambique. A 14 de Outubro de 2000, Sebastião Alba morreu atropelado em Braga.)
Com os meus amigos aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
Uma vez atingidas,
O caçador não repare na sua queda
(Daniel Faria nasceu em 1971, em Baltar, Paredes, Portugal. Licenciou-se em Teologia na Universidade Católica Portuguesa e em Estudos Portugueses na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Recebeu vários prémios literários relativos a inéditos de poesia e conto. Colaborou nas revistas Atrium, Humanística e Teologia, Via Spiritus e Limiar. Faleceu, em 9 de Junho de 1999.)