O processo
- O que importa é virá-lo do avesso,
Mudar as intenções,
Interpretar,
Sofismar -
Deve ser rápido e sumário.
Termos, preceitos, norma,
É tudo forma,
Matéria de processo e convenção.
Ao cabo, é o Calvário
Que é preciso atingir.
Alguém tem de subir.
Eu não quis, sou juiz.
Aos senhores,
Mais propagadores
De tudo o que acontece
- De todo o que parece
Que acontece
E passa a acontecer -
E disto e daquilo
- E da Verdade, às vezes -
.......................
Reinaldo Ferreira
(Poeta natural de Barcelona, filho do famoso jornalista com o mesmo nome, que nos anos 20 se celebrizou por assinar as suas peças sob o pseudónimo «Repórter X». Teve uma vida breve e pouco bafejada pela sorte. Iniciou os estudos secundários em Espanha, tendo-os concluído já em Moçambique, onde se fixou. Colaborou em algumas publicações de Maputo (a então cidade de Lourenço Marques) e da Beira: Capricórnio, Itinerário, Paralelo 20, etc. A sua poesia só ficou conhecida aquando da publicação póstuma dos seus Poemas (1960). Uma segunda edição, de 1966, vinha acompanhada de um prefácio de José Régio, que, tal como Vitorino Nemésio, lhe teceu largos elogios. A sua poesia pode ser enquadrada na tendência presencista, encontrando-se também elementos que a ligam ao simbolismo e ao decadentismo. Se nos seus poemas imperam a ironia, o niilismo e o absurdo, existe por outro lado um forte pendor humanista, visível na crítica a certos mitos. ) [http://www.astormentas.com/]
E quando chegares à dura
pedra de mármore não digas: «Água, água!»,
porque se encontraste o que procuravas
perdeste-o e não começou ainda a tua procura;
e se tiveres sede, insensato, bebe as tuas palavras
pois é tudo o que tens: literatura,
nem sequer mistério, nem sequer sentido,
apenas uma coisa hipócrita e escura, o livro.
Não tenhas contra ele o coração endurecido,
aquilo que podes saber está noutro sítio.
O que o livro diz é não dito, como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio.
Manuel António Pina nasceu em Sabugal, Beira Alta, em 18 de Novembro de 1943. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. É jornalista do Jornald e Notícias desde 1971, tendo colaborado noutros órgãos de comunicação social, desde a imprensa escrita, passando pela rádio e televisão. Tem-se dedicado à poesia e à tradução. (http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/apina.htm)
*Vai ser homenageado na sua terra, Sabugal, logo mais. Ainda bem que é agora enquanto ele sabe que é estimado e apreciado pelos seus conterrâneos.
Apesar do frio dos últimos dias e das brancas geadas matutinas, a natureza segue o seu curso imparável e as flores vão colorindo os nossos jardins. O tempo urge em florescer e os dias, mais extensos, acolhem as premências instintivas e acarinham as ânsias de colorir. A Primavera irrompe, rejuvenece e avança no devir natural!