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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Conferência à Imprensa

O processo
- O que importa é virá-lo do avesso,
Mudar as intenções,
Interpretar,
Sofismar -
Deve ser rápido e sumário.
Termos, preceitos, norma,
É tudo forma,
Matéria de processo e convenção.
Ao cabo, é o Calvário
Que é preciso atingir.
Alguém tem de subir.
Eu não quis, sou juiz.

Aos senhores,
Mais propagadores
De tudo o que acontece
- De todo o que parece
Que acontece
E passa a acontecer -
E disto e daquilo
- E da Verdade, às vezes -
.......................

Reinaldo Ferreira

(Poeta natural de Barcelona, filho do famoso jornalista com o mesmo nome, que nos anos 20 se celebrizou por assinar as suas peças sob o pseudónimo «Repórter X». Teve uma vida breve e pouco bafejada pela sorte. Iniciou os estudos secundários em Espanha, tendo-os concluído já em Moçambique, onde se fixou. Colaborou em algumas publicações de Maputo (a então cidade de Lourenço Marques) e da Beira: Capricórnio, Itinerário, Paralelo 20, etc. A sua poesia só ficou conhecida aquando da publicação póstuma dos seus Poemas (1960). Uma segunda edição, de 1966, vinha acompanhada de um prefácio de José Régio, que, tal como Vitorino Nemésio, lhe teceu largos elogios. A sua poesia pode ser enquadrada na tendência presencista, encontrando-se também elementos que a ligam ao simbolismo e ao decadentismo. Se nos seus poemas imperam a ironia, o niilismo e o absurdo, existe por outro lado um forte pendor humanista, visível na crítica a certos mitos. ) [http://www.astormentas.com/]

 

Híbrida ... (de Susana Celina)

Híbrida continua

Híbrida vem

Invade minha morada

 

Diz-me tu como conseguiste,

Onde descobriste a poção mágica,

que te faz dizer de novo "BOM dia" pelo ar gélido da manhã?

 

E se alguém dentro de mim quisesse dizer algo?

E se alguém delineasse os passos dos meus passos?

 

Chega!

Basta!

Não quero,

não aguento mais!

 

Irónico?!

 

O que é que isso tem a ver?!

Absolutamente nada,

Nada de forma alguma,

Por isso achei graça,

Por isso tenho vontade de rir,

Rir às gargalhadas...

... sentir que estou perto do fim.

 

Susana Celina Augusto

(Poetisa, natural da Guarda, publicou "Aleph Azul" e expôs recentemente outros poemas no Café Concerto.)

O livro - Manuel A. Pina

 

E quando chegares à dura
pedra de mármore não digas: «Água, água!»,
porque se encontraste o que procuravas
perdeste-o e não começou ainda a tua procura;
e se tiveres sede, insensato, bebe as tuas palavras
pois é tudo o que tens: literatura,
nem sequer mistério, nem sequer sentido,
apenas uma coisa hipócrita e escura, o livro.

Não tenhas contra ele o coração endurecido,
aquilo que podes saber está noutro sítio.
O que o livro diz é não dito,
como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio.

 

 

Manuel António Pina nasceu em Sabugal, Beira Alta, em 18 de Novembro de 1943. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. É jornalista do Jornald e Notícias desde 1971, tendo colaborado noutros órgãos de comunicação social, desde a imprensa escrita, passando pela rádio e televisão. Tem-se dedicado à poesia e à tradução. (http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/apina.htm)

 

*Vai ser homenageado na sua terra, Sabugal, logo mais. Ainda bem que é agora enquanto ele sabe que é estimado e apreciado pelos seus conterrâneos.

 

Natureza

 

   Apesar do frio dos últimos dias e das brancas geadas matutinas, a natureza segue o seu curso imparável e as flores vão colorindo os nossos jardins. O tempo urge em florescer e os dias, mais extensos, acolhem as premências instintivas e acarinham as ânsias de colorir. A Primavera irrompe, rejuvenece e avança no devir natural!

 

 

Fronteira



É doce
a tentação do labirinto
assim que o sono chega e se propaga
ao contorno das coisas. mal as sinto
quando confundo a onda sempre vaga

deste falso cansaço que regressa
ao som da minha estranha e dócil fala
cada vez mais submersa como essa
pequena luz da rua que resvala

plo interior da noite. É quase um sonho
A respirar lá fora enquanto o quarto
se dilui na fronteira que transponho
e afoga a consciência de onde parto

agora sem direito nem avesso
no incerto momento em que adormeço.

 

Fernando Pinto do Amaral

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