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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Augusto Gil

 

A MINHA MÃE
 

 

As ilusões semelham-se a um colar
De pérolas alvíssimas, de espuma.
Se o fio que as segura se quebrar,
Caem no chão, dispersas, uma a uma.
 
Caem no chão, dispersas, uma a uma,
Se o fio que as segura se quebrar;
Mas entre tantas sempre fica alguma,
Sempre alguma suspensa há-de ficar.
 
Das minhas ilusões, dos meus afectos,
Longo colar de amores predilectos,
Muitos rolaram já no pó também.
 
Um só dentre eles não cairá jamais:
Aquele que eu mais prezo entre os demais,
— O teu amor santíssimo de mãe.
 
Musa Cérula
 

 

[ Nos 80 anos da morte do poeta - 26 de Fevereiro de 1929]

ZECA AFONSO

Coro da Primavera

 

Cobre-te canalha
Na mortalha
Hoje o rei vai nu
Os velhos tiranos
De há mil anos
Morrem como tu
Abre uma trincheira
Companheira
Deita-te no chão
Sempre à tua frente
Viste gente
Doutra condição
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores


Livra-te do medo
Que bem cedo
Há-de o Sol queimar
E tu camarada
Põe-te em guarda
Que te vão matar
Venham lavradeiras
Mondadeiras
Deste campo em flor
Venham enlaçadas
De mãos dadas
Semear o amor
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores


Venha a maré cheia
Duma ideia
P'ra nos empurrar
Só um pensamento
No momento
P'ra nos despertar
Eia mais um braço
E outro braço
Nos conduz irmão
Sempre a nossa fome
Nos consome
Dá-me a tua mão
Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores

 

José Afonso

 

Antonio Machado - 70 anos da sua morte

Caminante, son tus huellas

el camino y nada más;

Caminante, no hay camino,

se hace camino al andar.

Al andar se hace el camino,

y al volver la vista atrás

se ve la senda que nunca

se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino

sino estelas en la mar.

 

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Era un niño que soñaba
un caballo de cartón.
Abrió los ojos el niño
y el caballito no vio.
Con un caballito blanco
el niño volvió a soñar;
y por la crin lo cogía...
¡ Ahora no te escaparás!
Apenas lo hubo cogido,
el niño se despertó.
Tenia el puño cerrado.
¡ El caballito voló!
Quedóse el niño muy serio
pensando que no es verdad
un caballito soñado.
Y ya no volvió a soñar.
Pero el niño se hizo mozo
y el mozo tuvo un amor,
y a su amada le decía:
¿ Tú eres de verdad o no?
Cuando el mozo se hizo viejo
pensaba: todo es soñar,
el caballito soñado
y el caballo de verdad.
Y cuando vino la muerte,
el viejo a su corazón
preguntaba: ¿ Tú eres sueño?
¡ Quién sabe si despertó!

 

[Dois poemas deste grande vulto das letras espanholas na língua original porque as traduções sempre claudicam! No entanto, do último poema, para quem quiser há aqui uma tradução de José Bento]

 

Fernando Pinto Ribeiro

cilício

amar
sem loucura nem pecado.
beijar com as asas
soerguidas
num voo orientado
através de trincheiras sucessivas.
não mais ficar parado
na curva do prazer
(hão-de explodir um dia em vão as feridas
do laço em que te abraço a Lúcifer).
tenha o desejo fugido à nostalgia
da amarra no cais ultrapassado
e viva nas marés do dia-a-dia
rendido
à viril filosofia
da onda que vai vem contra o rochedo.
guardar
a seiva do segredo
e o pólen da pele
nos lábios túmidos
hoje e sempre
fiel
ao beijo heróico
mortal e permanente
em que te aguardo
em que me encontre
frontal
total
e eternamente.

Fernando Pinto Ribeiro

(http://porosidade-eterea.blogspot.com/2009/02/fernando-pinto-ribeiro-1928-2009.html)

 

[1928 - 2009: Reconheço a minha ignorância sobre este autor, mas pelos vistos nasceu aqui pela cidade, embora tenha passado a maior parte da vida em Lisboa. Escrevia nos jornais e muitos dos seus poemas viraram letras de fados.]

 

Não sei de quem memoro

Não sei de quem memoro meu passado
Que outrem fui quando o fui, nem se conheço
Como sentindo com minha alma aquela
      Alma que a sentir lembro.
De dia a outro nos desamparamos.
Nada de verdadeiro a nós nos une.
Somos quem somos, e quem fomos foi
      Coisa vista por dentro.

 

Ricardo Reis

Tuas, não minhas

 

Tuas, não minhas, teço estas grinaldas,  
Que em minha fronte renovadas ponho. 
Para mim tece as tuas, 
Que as minhas eu não vejo. 
Se não pesar na vida melhor gozo 
Que o vermo-nos, vejamo-nos, e, vendo, 
Surdos conciliemos 
O insubsistente surdo. 
Coroemo-nos pois uns para os outros,  
E brindemos uníssonos à sorte 
Que houver, até que chegue  
A hora do barqueiro.

 

Ricardo Reis

Azuis os Montes

Azuis os montes que estão longe param. creis.gif (21881 bytes)
De eles a mim o vário campo ao vento, à brisa,
Ou verde ou amarelo ou variegado,
Ondula incertamente.
Débil como uma haste de papoila
Me suporta o momento. Nada quero.
Que pesa o escrúpulo do pensamento
Na balança da vida?
Como os campos, e vário, e como eles,
Exterior a mim, me entrego, filho
Ignorado do Caos e da Noite
Às férias em que existo.

 

Odes De Ricardo Reis

Nada é impossível de mudar

 

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

 

Bertold Brecht

 

( E Brecht sabia do que falava! E os tempos de hoje têm alguma semelhança: se não estivermos atentos tudo nos irá sendo tirado aos poucos e quando dermos conta nada poderemos fazer!)

Casa e luz

É tão triste que algumas aldeias só apareçam na comunicação social por estes motivos! Já agora não se envergonhará este presidente de ter uma das estradas (por acaso a mais rápida) que dá acesso à Guarda em mísero estado e com a ponte sobre o Noéme em grave estado de degradação?!

 

 

Por incrível que possa parecer, nunca reparei nos candeeiros de que fala a notícia publicada no "Interior" e depois no "Expresso". Isto apesar de ir frequentemente ao Barracão, freguesia de Panóias de Cima, onde se situa a casa da notícia. Assim, não confirmo nem desminto.
 
(Retirado com a devida vénia de http://cafe-mondego.blogspot.com/, mas também podia ter sido daqui: http://soldaguarda.blogspot.com/)

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