Passam este mês os 4oo anos do nascimento deste Homem que fez um pouco de tudo e engrandeceu a língua portuguesa dando-lhe a maturidade que lhe faltava depois da poesia de Camões. A propósito da efeméride remeto para um texto da minha autoria publicado na imprensa regional e que traduz a minha opinião sobre o Homem e o escritor.
Dia 14 deste mês fez um ano que comecei este blogue com a intenção de divulgar a poesia de Torga, visto que se celebrava o centenário do seu nascimento. A intenção foi de algum modo conseguida acho eu, pelo menos considero que divulguei alguma da sua poesia que é menos conhecida. Portanto o objectivo do primeiro ano está finalizado. Os últimos dias não me deixaram espaço para agradecer aos visitantes fiéis deste espaço, mas hoje aqui fica o meu sincero obrigado. Agora, não sei como será o futuro. Provavelmente não será tão assídua a minha passagem por aqui e tentarei diversificar o conteúdo, mas como de boas intenções está o inferno cheio é melhor não fazer projectos e esperar o que os dias nos ditem. Da Guarda, das suas gentes, dos seus poetas / escritores, possivelmente falarei; do resto......
Se puderes Sem angústia E sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado, Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças...
Nada a fazer amor, eu sou do bando Impermanente das aves friorentas; E nos galhos dos anos desbotando Já as folhas me ofuscam macilentas;
E vou com as andorinhas. Até quando? À vida breve não perguntes: cruentas Rugas me humilham. Não mais em estilo brando Ave estroina serei em mãos sedentas.
Pensa-me eterna que o eterno gera Quem na amada o conjura. Além, mais alto, Em ileso beiral, aí espera:
Andorinha indemne ao sobressalto Do tempo, núncia de perene primavera. Confia. Eu sou romântica. Não falto.
É contra mim que luto Não tenho outro inimigo. O que penso O que sinto O que digo E o que faço E que pede castigo E desespera a lança no meu braço
Absurda aliança De criança E de adulto. O que sou é um insulto Ao que não sou E combato esse vulto Que à traição me invadiu e me ocupou
Infeliz com loucura e sem loucura, Peço à vida outra vida, outra aventura, Outro incerto destino. Não me dou por vencido Nem convencido E agrido em mim o homem e o menino.
Em nome do teu nome, Que é viril, E leal, E limpo, na concisa brevidade — Homem, lembra-te bem! Sê viril, E leal, E limpo, na concisa condição. Traz à compreensão Todos os sentimentos recalcados De que te sentes dono envergonhado; Leva, dourado, O sol da consciência As íntimas funduras do teu ser, Onde moram Esses monstros que temes enfrentar. Os leões da caverna só devoram Quem os ouve rugir e se recusa a entrar.