No cimo de monte inhospito,
junto da nevada Estrella,
se ergue uma cidade. É n'ella
que vamos, leitor, entrar.
É fria, ventosa e húmida
feia, denegrida e forte,
que o reino, contra a má sorte,
era obrigada a guardar.
Por isso é GUARDA o seu nome;
pois sempre voltada á Hespanha,
de pé, na sua montanha,
a espia no seu lidar.
É hoje, rotos os muros,
veterano sem guarita,
já sem farda e sem marmita,
mas firme sempre a guardar!
Nos annos da nossa história,
era mais triste e mais pobre;
mas sempre leal e nobre,
não quiz a face voltar.
O mais valente guerreiro
pôde morrer na peleja;
mas veja a morte ou não veja,
há de o seu posto guardar.
Durante a quadra invernosa,
gelos dos tectos pendentes,
semelham lustres luzentes,
que o sol desfaz a brincar;
tal se vê crystallisado
crespo bigode guerreiro,
após noite de janeiro,
toda velada a guardar.
Tomás Ribeiro, D. Jayme