INSPIRAÇÃO
Li o teu poema oblíquo de chuva, ó poeta!
e, nas asas do irreal,
parti deslizando
p'lo infinito aberto da tua poesia.
Imerso na densidade do porto,
passei de cor as velas da razão:
nos vultos das árvores banhei-me de sol
e nas águas sombrias de perfeição.
Enlevei-me no sonho que me deste
e, nos versos que geraste,
vi o cais lamacento
da vertical humanidade derrubada.
Quis-me fingidor a teu lado
mas escorreguei na lama do cais,
onde o Estio grita revoltado
a liberdade perdida jamais.
Passando de través pela rua
doirei a perfeição palpitante,
nas pedras da fresca calçada
onde a vontade rastejava delirante.
Senti.
Um laivo de génio passou.
Da minha voz - quase nada -
saiu este grito de mim.
JM, "Palavras Nossas", Escola Sec. da Sé - 1991
[Nas arrumações sazonais destes dias, encontrei este poema do século passado e que também saiu no Público na escola de Outubro de 1992.]