fugaCIDADEs
A vida vai escorrendo
breve e leve
neste Janeiro
de nevoeiro
pelos cantos lamacentos
de prédios pardacentos
grisalhos
de esforçados trabalhos
que esburaqueiam
e esfaqueiam
as calçadas paralelas
desta cidade matadora de estrelas.
E nos braços nus das árvores
pousam tímidos pardais
recolhidos de frios tais
que os próprios lanudos cães
fogem amedrontados
e atarantados
para o fundo sombrio e quente
da sua casota ; se é que tem
(porque se for vadio
dormirá ao relento
e suportará o frio
que sopra o serrano vento
da Estrela, gélido e nevado
de sincelo coroado).
JM
[Com este texto termino a publicação dos poemas que estiveram no Café Concerto. Outros irei publicando da minha autoria, em paralelo com os de autores consagrados que continuarei a divulgar, quer para celebrar efemérides, quer por gosto pessoal. Que a poesia suavize a vida!]