Fado Português - José Régio
Como muito bem nos tem lembrado Manuel Poppe no seu blogue sobre o risco, passam este mês quarenta anos sobre a morte de um dos maiores poetas portugueses do século XX, José Régio. Durante muito tempo foi esquecido, depois redescoberto e agora parece novamente perdido na penumbra. Talvez as sombras de outros dois vultos do início do século - Fernando Pessoa por um lado e Miguel Torga por outro - o tenham afastado da ribalta literária, mas ele é, sem dúvida, uma das figuras marcantes e impulsionadoras do segunda modernismo presencista que viria a determinar o rumo da literatura portuguesa depois dos anos 30. A partir de hoje e até dia 22, deixarei alguns poemas para lembrar a efeméride. Hoje recordo um poema cantado por várias vozes femininas nomeadamente a diva Amália.
O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.
Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.
Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro velero
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
[Para quem gosta de fado pode ouvir o poema na voz de Amália:
http://www.youtube.com/watch?v=1YriVM8sC7M
ou escolher a versão de Dulce Pontes:
http://www.youtube.com/watch?v=Ui2zIM8FWS4&feature=related
ou na versão recentíssima dos Amália Hoje:
http://www.youtube.com/watch?v=DMh0814d-RI&feature=fvw
a opção fica à distância de um clique.]