"O beiral"-fugaCIDADEs
“Beiral”
(A C. Verde)
Ao passar hoje, naquela rua,
que já milhentas vezes percorrera,
cheirou-me algo, que nunca vira,
senti o que nunca soubera.
Num canto esquecido e tímido,
forte na solidez da construção,
um beiral de ninhos, erguido,
com requintes de insinuação.
Um após outro encarreirados,
- qual deles se mostrava mais seguro! -
feitos com lama por enamorados,
presente com olhos de futuro!
Com que amor, com que paixão,
foram lineados até ao pormenor!
(Quanto mais acelera o coração
mais perfeita a obra do amor!)
Que vai e vem! Que chilreada alegre!
A pensar fui seguindo meu caminho:
que contraste entre o beirado do casebre
e o mundo, ausente de carinho!
J M