AOS QUE BUSCAM O CAMINHO - N.G.
A ti,
Oriundo
Seja donde for
De qualquer língua ou cor
Vivendo neste mundo;
A ti,
Que sentes a dor
E sofres em cada dia,
À procura do caminho
Recebe a mensagem do meu carinho
E a homenagem
De funda simpatia.
Acompanho-te
Nas noites de insónia
Quando, a horas mortas,
Os outros dormem
Sossegados e tranquilos
Em seu leito
E tu, insatisfeito,
Inquieto
Vagueias pelo mundo das ideias
Ou te agitas prisioneiro
Entre invisíveis cadeias;
Acompanho-te
Quando nos ruídos e folguedos,
Outros deixam ébrios os sentidos
Na volúpia do som e da cor
E tu te manténs pensativo
Perscrutando os segredos
De cada existência,
Da tua existência,
De todo alheio
Ao que se passa em derredor,
Atribulado, impaciente,
Interrogando as coordenadas
De todos os horizontes;
A ti,
Que consideras a vida
Coisa séria
Mais do que dois palmos de matéria;
A ti,
Para quem viver
É mais do que comer
Dormir
E depois... morrer!
A ti,
Estranho peregrino
Eu direi :
— «És o símbolo da Humanidade
A caminho do destino».
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A água para matar a sede
Está na fonte
Para lá do tempo
Para lá do horizonte.
[N. G. é um pseudónimo(!) utilizado pelo Padre António de Oliveira Crespo, professor de Latim e Literatura no Seminário da Guarda e também no Liceu da Guarda. Nasceu em Meimoa, Penamacor e faleceu a 13 de Agosto passado. Foi um padre e um homem simples e humilde, apesar de ter muitos conhecimentos a nível literário; as aulas cativavam pela emoção que dava aos textos e pelo sentimento com que os transmitia. Foi meu professor das duas cadeiras no Seminário, por isso aqui lhe presto esta singela homenagem na transcrição deste poema retirado de um opúsculo da Diocese da Guarda.]