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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

AOS QUE BUSCAM O CAMINHO - N.G.

A ti,

Oriundo

Seja donde for

De qualquer língua ou cor

Vivendo neste mundo;

A ti,

Que sentes a dor

E sofres em cada dia,

À procura do caminho

Recebe a mensagem do meu carinho

E a homenagem

De funda simpatia.

Acompanho-te

Nas noites de insónia

Quando, a horas mortas,

Os outros dormem

Sossegados e tranquilos

Em seu leito

E tu, insatisfeito,

Inquieto

Vagueias pelo mundo das ideias

Ou te agitas prisioneiro

Entre invisíveis cadeias;

Acompanho-te

Quando nos ruídos e folguedos,

Outros deixam ébrios os sentidos

Na volúpia do som e da cor

E tu te manténs pensativo

Perscrutando os segredos

De cada existência,

Da tua existência,

De todo alheio

Ao que se passa em derredor,

Atribulado, impaciente,

Interrogando as coordenadas

De todos os horizontes;

A ti,

Que consideras a vida

Coisa séria

Mais do que dois palmos de matéria;

A ti,

Para quem viver

É mais do que comer

Dormir

E depois... morrer!

A ti,

Estranho peregrino

Eu direi :

— «És o símbolo da Humanidade

A caminho do destino».

...........................

A água para matar a sede

Está na fonte

Para lá do tempo

Para lá do horizonte.

 

[N. G. é um pseudónimo(!) utilizado pelo Padre António de Oliveira Crespo, professor de Latim e Literatura no Seminário da Guarda e também no Liceu da Guarda. Nasceu em Meimoa, Penamacor e faleceu a 13 de Agosto passado. Foi um padre e um homem simples e humilde, apesar de ter muitos conhecimentos a nível literário; as aulas cativavam pela emoção que dava aos textos e pelo sentimento com que os transmitia. Foi meu professor das duas cadeiras no Seminário, por isso aqui lhe presto esta singela homenagem na transcrição deste poema retirado de um opúsculo da Diocese da Guarda.]