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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Cais

 

Ponto de partida ou chegada?

Que importa?

Se partes, levas a amada,

se vens, trazes contigo a porta

onde encontras o abrigo

o calor do abraço amigo.

 

No cais da vida está sempre presente

a importância do sonho,

imprescindível e omnisciente,

testemunha com que deponho

a alegria de ser

o fundamental de viver.

 

J M

Terra-mãe


A paisagem deslumbrante dos teus olhos



refletia a luz juvenil da alvorada

e a fecundidade fértil sem abrolhos

rescendendo aos aromas da terra molhada.

 



A seara dos teus cabelos ondulantes

meio madura num junho primaveril

refletia as luzes matutinas coruscantes

e lembrava a pujança de ufano abril.

 



O repouso do teu corpo ternurento

deitado numa realidade refrescante

semiadormecido no amparo do relento

refletia uma serenidade ambulante.

 



No teu ser, tua beleza, tua paixão

corre um rio de águas cristalinas

da terra mãe a insaciável sedução

e todas as manhas e artes femininas.

 



J M

Sorriso


No teu sorriso há um mundo

repleto de sonhos e fantasia.

Há um poema íntimo e profundo

e também palavras de alegria.

 



No teu sorriso há inúmeras estrelas

brilhante , esplêndidas, verdadeiras.

Há imensas, variadas coisas belas

genuínas. ímpares, prazenteiras.

 



No teu sorriso há sinestesias

fragrantes de ternura, harmoniosas.

Há a singeleza perfumada dos dias,

e aromas subtis matizados das rosas.

 



26.06.2023

J M

Mãe


 



Assim.

 

O silêncio, o vazio,

a ausência premente.

 



Estás, não estando.

Vês, já não te vemos,

mas sentimos-te em nós.

 



E, nessa voz,

de lembrança, de saudade,

vivemos a ansiedade

da tua partida.

 



Hoje celebramos-te,

apesar da distância.

 

Recordamos-te,

e a verdade de ti

permanecerá em nós.

 



A (im)perfeição dos dias, 2015

O beijo


A tarde alarga-se preguiçosa



sob as sombras esparsas

das árvores; amorosa

a noite beijava

a fria nuvem

que descansada

escorregava

pelas horas do entardecer.

 



O beijo era a saudade

de repente, com a idade,

a crescer,

a crescer.

 



JM

Beijo


 



Rasgava o céu azul paulatinamente

a ânsia de mitigar o forte desejo

e no vento que derrapava esconsamente

ouviu-se nítido o estrondo de um beijo.

 



Tudo parou subita e repentinamente:

o vento, as aves, o rio e até o mar...

Seguiu-se um profundo silêncio; emergente

e cristalino desvendou-se o claro luar!

 



E as memórias desse estrondo povoaram-se

dos lábios húmidos e ridentes desses dois

e os corpos prazenteiros requebraram-se

 



numa dança sofregamente sensual ... pois

no íntimo de cada um sobressaltaram-se

as horas do presente entre um antes e um depois.

 



JM, A (im)perfeição dos dias.

...


Há um corpo de mulher

caído numa viela,

todos passam por ela

todos sem a ver.

 



um corpo de mulher

caído numa rua,

todos olham para ela

porque está nua.

 




Todos o ignoram,

mesmo conhecendo;

Todos o desprezam,

mesmo sabendo.

 




J M

Não


Não façam chorar as crianças.

Deixem florir as rosas,

não esmaguem as pétalas.

 



Não esmaguem as pétalas às rosas

que as crianças precisam de florir.



 

J M

CIDADE


 

                                                         a Ary dos Santos



 

A cidade é um chão              de culturas variadas

é fermento corado                na masseira de suores

e vida fertilizante                  poema de dias melhores

é pastor de muitas vidas    rebanho de mil cabeças

esperanças desfeitas         glórias bem apregoadas.

 



A cidade é projecção         da luta continuada

que nos dias renasce         na certeza do entardecer

porém ao alvorecer            quando o sol se levanta

há uma angústia latente   no coração dos homens.

 



A cidade é malícia              com bondade à mistura

é antro de solidão               ou bar/café de frescura;

lógica entrelaçada              nos esgares da paixão

onde perdura a noite          na aurora do coração.

 

J M

Os olhos

Os olhos das casas
espreitavam a praça deserta
e no lajedo do chão
as sombras esperavam uma aberta
para se apoderarem dela
 
mas ao fundo na janela
resvés com as pedras
uma labareda vigiando
esperava o momento de atacar
o resto de luz
 
e atento D. Sancho
a mão nervosa na espada
olha em ânsias a Rua Direita
tentando vislumbrar
a esbelta Ribeirinha
 
J M 05.04.2017
 
[Foto de Carlos Adaixo]
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