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Ponto de partida ou chegada?
Que importa?
Se partes, levas a amada,
se vens, trazes contigo a porta
onde encontras o abrigo
o calor do abraço amigo.
No cais da vida está sempre presente
a importância do sonho,
imprescindível e omnisciente,
testemunha com que deponho
a alegria de ser
o fundamental de viver.
J M
A paisagem deslumbrante dos teus olhos
refletia a luz juvenil da alvorada
e a fecundidade fértil sem abrolhos
rescendendo aos aromas da terra molhada.
A seara dos teus cabelos ondulantes
meio madura num junho primaveril
refletia as luzes matutinas coruscantes
e lembrava a pujança de ufano abril.
O repouso do teu corpo ternurento
deitado numa realidade refrescante
semiadormecido no amparo do relento
refletia uma serenidade ambulante.
No teu ser, tua beleza, tua paixão
corre um rio de águas cristalinas
da terra mãe a insaciável sedução
e todas as manhas e artes femininas.
No teu sorriso há um mundo
repleto de sonhos e fantasia.
Há um poema íntimo e profundo
e também palavras de alegria.
No teu sorriso há inúmeras estrelas
brilhante , esplêndidas, verdadeiras.
Há imensas, variadas coisas belas
genuínas. ímpares, prazenteiras.
No teu sorriso há sinestesias
fragrantes de ternura, harmoniosas.
Há a singeleza perfumada dos dias,
e aromas subtis matizados das rosas.
Assim.
O silêncio, o vazio,
a ausência premente.
Estás, não estando.
Vês, já não te vemos,
mas sentimos-te em nós.
E, nessa voz,
de lembrança, de saudade,
vivemos a ansiedade
da tua partida.
Hoje celebramos-te,
apesar da distância.
Recordamos-te,
e a verdade de ti
permanecerá em nós.
A (im)perfeição dos dias, 2015
A tarde alarga-se preguiçosa
sob as sombras esparsas
das árvores; amorosa
a noite beijava
a fria nuvem
que descansada
escorregava
pelas horas do entardecer.
O beijo era a saudade
de repente, com a idade,
a crescer,
a crescer.
Rasgava o céu azul paulatinamente
a ânsia de mitigar o forte desejo
e no vento que derrapava esconsamente
ouviu-se nítido o estrondo de um beijo.
Tudo parou subita e repentinamente:
o vento, as aves, o rio e até o mar...
Seguiu-se um profundo silêncio; emergente
e cristalino desvendou-se o claro luar!
E as memórias desse estrondo povoaram-se
dos lábios húmidos e ridentes desses dois
e os corpos prazenteiros requebraram-se
numa dança sofregamente sensual ... pois
no íntimo de cada um sobressaltaram-se
as horas do presente entre um antes e um depois.
JM, A (im)perfeição dos dias.
Há um corpo de mulher
caído numa viela,
todos passam por ela
todos sem a ver.
Há um corpo de mulher
caído numa rua,
todos olham para ela
porque está nua.
Todos o ignoram,
mesmo conhecendo;
Todos o desprezam,
mesmo sabendo.
Não façam chorar as crianças.
Deixem florir as rosas,
não esmaguem as pétalas.
Não esmaguem as pétalas às rosas
que as crianças precisam de florir.
A cidade é um chão de culturas variadas
é fermento corado na masseira de suores
e vida fertilizante poema de dias melhores
é pastor de muitas vidas rebanho de mil cabeças
esperanças desfeitas glórias bem apregoadas.
A cidade é projecção da luta continuada
que nos dias renasce na certeza do entardecer
porém ao alvorecer quando o sol se levanta
há uma angústia latente no coração dos homens.
A cidade é malícia com bondade à mistura
é antro de solidão ou bar/café de frescura;
lógica entrelaçada nos esgares da paixão
onde perdura a noite na aurora do coração.
J M
Os olhos das casas
espreitavam a praça deserta
e no lajedo do chão
as sombras esperavam uma aberta
para se apoderarem dela
mas ao fundo na janela
resvés com as pedras
uma labareda vigiando
esperava o momento de atacar
o resto de luz
e atento D. Sancho
a mão nervosa na espada
olha em ânsias a Rua Direita
tentando vislumbrar
a esbelta Ribeirinha