MÃE
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A tarde alonga-se-me na saudade
De outras curtas tardes de visitas
Alonga-se-me no nada em que ficas
Sozinha para além da realidade
Na solidão de uma casa vazia
Onde te reinventa cada recanto
Onde as impressões indeléveis de alegria
Perduram a par de sentido pranto
Esses risos essas lágrimas esses gestos
Essas angústias esses beijos essas ternuras
Essas mãos calejadas esse olhar veemente
Para sempre estão impressos nesses restos
Que nos deixas e nas ânsias e amarguras
De não te ter mais mas de te ter eternamente.
(JM – 14.10.2012)
Nem sílabas, nem fonemas,
nem palavras, nem grafemas
apenas o vento forte
do norte
me traz o silêncio dos poemas que tu lavras.
Tudo se desmorona, enfim,
na solidão da tarde em vendaval
e cai gravemente em mim
uma solene angústia existencial.
JM
Amamos em cada dia de maneira diferente,
pois cada dia é desigual do anterior.
Assim, como podemos amar sempre o mesmo
se ele muda continuamente?
O amor, em si, é versátil :
muda na hora em que vivemos
o presente eterno.
Amamos cada dia de maneira diferente
porque o ontem dissipou-se
e o amanhã ainda lá vem subindo devagar
a escada multiforme do tempo.
"Colhe o momento" e terás a ventura
de viver cada instante o que ele dura.
10.11.2011
JM
A paisagem deslumbrante dos teus olhos
refletia a luz juvenil da alvorada
e a fecundidade fértil sem abrolhos
rescendendo aos aromas da terra molhada.
A seara dos teus cabelos ondulantes
meio madura num junho primaveril
refletia as luzes matutinas coruscantes
e lembrava a pujança de ufano abril.
O repouso do teu corpo ternurento
deitado numa realidade refrescante
semiadormecido no amparo do relento
refletia uma serenidade ambulante.
No teu ser, tua beleza, tua paixão
corre um rio de águas cristalinas
da terra mãe a insaciável sedução
e todas as manhas e artes femininas.
18.06.2013
J M
Rasgava o céu azul paulatinamente
a ânsia de mitigar o forte desejo
e no vento que derrapava esconsamente
ouviu-se nítido o estrondo de um beijo.
Tudo parou subita e repentinamente:
o vento, as aves, o rio e até o mar...
Seguiu-se um profundo silêncio; emergente
e cristalino desvendou-se o claro luar!
E as memórias desse estrondo povoaram-se
dos lábios húmidos e ridentes desses dois
e os corpos prazenteiros requebraram-se
numa dança sofregamente sensual ... pois
no íntimo de cada um sobressaltaram-se
as horas do presente entre um antes e um depois.
JM
Assim.
O silêncio, o vazio,
a ausência premente.
Estás, não estando.
Vês, já não te vemos,
mas sentimos-te em nós.
E, nessa voz,
de lembrança, de saudade,
vivemos a ansiedade
da tua partida.
Hoje celebramos-te,
apesar da distância.
Recordamos-te,
e a verdade de ti
permanecerá em nós.
(09.01.1915)
Preciso de uma mão amiga
estendida na amarga solidão
que me passe os dedos carinhosos
por minha alma em fadiga
sequiosa de afeição
e doutros bens preciosos.
Preciso das tuas palavras
envoltas em doçuras sem ironia
com recheio de chocolate
daquelas que tu lavras
na lua cheia do dia
em que o sol nunca bate.
Preciso da tua amizade
sem peias nem atilhos
baseada na compreensão,
na entrega, na felicidade,
que os pais outorgam aos filhos
do fundo do coração.
JM
Tudo é tão precário
que a nuvem passageira
ora passando no céu outonal
é todavia mais lenta
que o ser humano em si.
Casmurro e otário
sentado no precipício, à beira
da vertigem de ser banal,
o ser humano sustenta
a sensação de ser sem fim.
Mesmo vendo o rio correr
sem cessar para o seu fim
não consegue entender
que o destino é sempre assim:
Estéril vida sem sentido,
corre-corre continuado,
intervalo de nascer prometido
com a morte sempre a seu lado!
A tarde alarga-se vertiginosa
sob as sombras esparsas
das árvores; amorosa
a noite beijava
a fria nuvem
que descansada
escorregava
pelas horas do entardecer.
O beijo era a saudade
de repente
a crescer, a crescer.
JM