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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

GENTE DE VALOR

 

    As palavras não chegam, diria antes negam-se a admitir a realidade, e cruéis chegaram de manhã com a notícia sempre triste: morreu o Igor. Espanto, estupefação, incredulidade! Como pode isso ser verdade? A vida é assim tão injusta? Por que razão os bons são os primeiros a morrer? 
   O Igor foi meu aluno na Afonso de Albuquerque e aí travámos uma daquelas amizades que nunca se deseja perder. Era o protótipo da PESSOA: falava com toda a calma do mundo, nunca se alterava, tinha uma educação tão respeitadora que nos levava a interrogar-nos se ainda era possível haver gente assim neste mundo conturbado. Estava sempre disponível para ajudar, estava sempre pronto a colaborar, estava sempre pronto a ... sorrir. 
   A vida levou-o para outros lados, mas mantivemos sempre o contacto e quando vinha pela Guarda havia quase sempre duas palavras de café para trocar na amizade perene de seres que se entendem e partilham ânsias e sonhos. E como ele falava dos seus sonhos! Como brilhavam, nessa altura, aqueles olhos irrequietos reflexo de um coração sempre pronto a saber mais e a aprender! Como era contagiante aquela sua alegria facilmente transmissível aos que o rodeavam! 
   Estaria Deus assim tão necessitado de mais um anjo, para no-lo roubar? É que este também era da Guarda e também nos guardava!
   Que descanse em paz!

Prémio Café Mondego 2011: António José Dias de Almeida

O Mundo Aqui

 

"E o vencedor do Prémio Café Mondego 2011 é António José Dias de Almeida, professor aposentado, estudioso da literatura, militante cultural e homem de um coração imenso. Ele está, há décadas, sempre "presente" em tudo o que tenha a ver com letras, artes e cultura. A sua disponibilidade para colaborar é muito grande e conhecida na cidade. Para além do mais é um cidadão activo e empenhado. Para mim é uma das referências (poucas) que tenho a cidade. Por isso fico muito satisfeito por ter sido ele o premiado, mesmo que este prémio valha, apenas, para dizer a António J. Dias de Almeida de que gostamos muito dele.
O júri do prémio foi constituído por Daniel Rocha (professor, poeta e bombeiro), Márcio Fonseca (informático e bloguer), Vasco Queiroz (médico), Hélder Sequeira (historiador e jornalista), Helena Neves (cantora e professora), Pires Veiga (professor aposentado), Élia Fernandes (professora), Agostinho Silva (professor e designer), José Monteiro (professor e poeta), Igor Costa (jornalista), Aires Dinis (professor e escritor) e eu próprio.

Como se sabe, foram recebidas várias sugestões de leitores. Também, a meu convite, mais de uma dúzia de personalidades indicaram aqueles que, na sua opinião, mereciam reconhecimento público. A lista final era constituída por 30 candidatos, o que mostra a riqueza humana que a Guarda tem. António J. Dias de Almeida foi o mais votado pelos membros do júri.

A Guarda não costuma reconhecer o mérito dos cidadãos. Este é o único prémio da Guarda que pretende agradecer o trabalho de alguém. O prémio não é pecuniário nem institucional. Mas é verdadeiro, simples e despretensioso.
Obrigado, António José Dias de Almeida!"

[http://cafe-mondego.blogspot.com/2012/01/premio-cafe-mondego-2011-antonio-jose.html]

 

 

[As palavras do Dr. Américo dizem tudo o que penso desta figura da nossa cidade. E se acaso elas pecam é por defeito: é a pessoa mais culta da Guarda, é uma pessoa discreta e simples que não gosta de exibir a sua sabedoria, mas é um "filósofo" no sentido radical da palavra grega. A cidade tem o dever de mostrar reconhecimento a este CIDADÃO.]

810 anos - José Augusto de Castro

 

PERTO DO CÉU

Quando a primeira vez a vi, lá cima,

- a mais alta de todas as cidades -

senti não sei que doces ansiedades,

das quais nossa alma se ilumina e anima.

Esbocei versos, procurei a rima,

para falar da Gloria e das Idades...

E tomavam-me sonhos e vaidades,

vendo-a como de Deus uma obra prima!

Guarda! Fiquei-me a vê-la...No horisonte

erguia-se o Castelo - sobre o monte -,

torres e coruchéus da Catedral...

Outras terras mais lindas ha, de-certo...

Porem nenhuma fica assim tão perto

do puro azul do céu de Portugal!

 

"Terra sagrada - Guarda" 1932

 

 

Soneto camoniano - Cristino Cortes

(I)

 

Mudam-se os tempos mudam-se as vontades
Permanecem os problemas e as confusões
- Jamais um homem se perdeu nas multidões
O vão propósito jamais ergueu uma cidade!

 

Todos os meses há chatices coisas certas
Para um dinheiro visivelmente minguante;
Desculpem-me o facto comezinho e rastejante
Possa Camões perdoar estas musas e suas ofertas!

 

Mas é este um canto nobre e digno, e até ver
Também aqui a pressão do concreto queima a asa
De quem teve um grande sonho mas ficou em casa

- Não se perdeu, ainda não, o hábito de comer!


Mudam-se os tempos e às vezes as vontades mudam
Só o homem permanece – e as questões que o animam.

 

(in “CRONOLOGIA e outros poemas”)

MINIMAMENTE

  Se o teatro é vida, a vida é um teatro. Comédia, tragédia, se calhar, a maior parte das vezes tragicomédia. Estereotipos de vidas avulsas com a finalidade - já o dizia Aristóteles - de fazer esquecer as desgraças, com uma função catártica. Seis actores em palco percorrendo vidas avulsas algures na Alemanha que também pode ser a Guarda. Estiveram bem e o maior elogio e a maior ovação - eles não se aperceberam - foi de um petiz de palmo e meio, logo na fila B, que se riu e fez comentários fantásticos ao longo da representação: a inocência a rir-se das doideiras dos adultos! Temos grupo, vamos estar de tento no olho!

 

Os teus olhos - Cristino Cortes

Nos meus olhos, oh meu amor, inda transporto o brilho

Que um dia senti nos teus e só aos deuses peço
Essa memória permaneça; de tudo me despeço
Sem mágoa ou pesar de alma do que vier grato filho...
 
Nenhum véu de futuras lágrimas toldava esse encanto
Essa certeza de conseguir e toda se dar;
Para mim, aliás, se não dirigia esse olhar
Comum era o objectivo e assim lhe quero tanto
 
Falo no passado pois que esse tempo passou
Tal como muita coisa passou à face da terra;
Mas a gratidão é bálsamo que o coração me encerra
E a esse brilho jamais nenhum futuro o levou
 
Rolarão as esferas e os astros, tudo passará
E só esse brilho nos teus olhos não me esquecerá.
 
Poemas de Amor e Melodia, papiroeditora
 
 [CRISTINO CORTES nasceu em Fiães, uma pequena aldeia perto de Trancoso, em 1953.
Licenciou-se em Economia em Lisboa, cidade onde reside desde 1971.]