Joaquim Pessoa
Estavas mais bonita do que nunca esta manhã.
E eu nem soube o que dizer-te. Poderia simplesmente dizer
que estavas linda. E diria a verdade. Mas senti que isso soaria
a galanteio, soaria a qualquer outra coisa que não era mais
verdadeira que o meu silêncio. E eu, que vivo das palavras,
não tive palavras que te abraçassem, que corressem mansa-
mente pelos teus ombros, que se aninhassem nos teus cabe-
los, que nas tuas pequeninas orelhas se dependurassem co-
mo brincos.
Ainda tenho nos meus olhos o brilho dos teus olhos. Nunca,
como hoje, desejei estar contigo numa ilha. Uma ilha deserta,
mas cheia de nós. E à tua pergunta natural: "o que é que es-
tamos aqui a fazer?", eu responderia também naturalmente:
"se cá estamos, é porque fazemos cá falta!"
Joaquim Pessoa, ANO COMUM