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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

As Aldeias

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(1878 - 1921)

Eu gosto das aldeias socegadas, 
Com seu aspecto calmo e pastoril, 
Erguidas nas collinas azuladas - 
Mais frescas que as manhãs finas d'Abril. 

Levanta a alma ás cousas visionarias 
A doce paz das suas eminencias, 
E apraz-nos, pelas ruas solitarias, 
Ver crescer as inuteis florescencias. 

Pelas tardes das eiras - como eu gosto 
Sentir a sua vida activa e sã! 
Vel-as na luz dolente do sol posto, 
E nas suaves tintas da manhã! 

As creanças do campo, ao amoroso 
Calor do dia, folgam seminuas; 
E exala-se um sabor mysterioso 
D'a agreste solidão das suas ruas! 

Alegram as paysagens as creanças, 
Mais cheias de murmurios do que um ninho, 
E elevam-nos ás cousas simples, mansas, 
Ao fundo, as brancas velas d'um moinho. 

Pelas noutes d'estio ouvem-se os rallos 
Zunirem suas notas sibilantes, 
E mistura-se o uivar dos cães distantes 
Com o canto metallico dos gallos... 

António Gomes Leal, 'Claridades do Sul'