Os passarinhos Tão engraçados Fazem os ninhos Com mil cuidados. São p'ra os filhinhos Que estão para ter Que os passarinhos Os vão fazer. Nos bicos trazem Coisas pequenas E os ninhos fazem De musgo e penas. Depois lá têm Os seus meninos Tão pequeninos Ao pé da mãe. Nunca se faça Mal a um ninho À linda graça Dum passarinho. Que nos lembremos Sempre também Do pai que temos Da nossa mãe. Afonso Lopes Vieira.
Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração, e também a Bondade, e a Sinceridade, e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração. Então poderia dizer-vos: "Meus amados irmãos, falo-vos do coração", ou então: "com o coração nas mãos".
Mas o meu coração é como o dos compêndios Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral) e os seus compartimentos (duas autículas e dois ventrículos). O sangue a circular contrai-os e distende-os segundo a obrigação das leis dos movimentos.
Por vezes acontece ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados, e uma lâmina baça e agreste, que endurece a luz dos olhos em bisel cortados. Parece então que o coração estremece. Mas não. Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático, que esse vento que sopra e que ateia os incêndios, é coisa do simpático.Vem tudo nos compêndios.
Então, meninos! Vamos à lição! Em quantas partes se divide o coração?
O vento é bom bailador baila, baila e assobia, Baila, baila e redopia e tudo baila em redor!
E diz às flores bailando: -Bailai comigo bailai! E elas, curvadas, arfando começam, débeis, bailando, e as suas folhas tombando uma se esfolha, outra cai e o vento as deixa, abalando -e lá vai!..
O vento é bom bailador, baila, baila e assobia, baila, baila e redopia e tudo baila em redor
E diz às altas ramadas: -Bailai comigo, bailai! E elas sentem-se agarradas, bailam no ar desgrenhadas, bailam com ele assustadas, já cansadas, suspirando, e o vento as deixa, abalando -e lá vai!...
O vento é bom bailador, baila, baila e assobia, baila, baila e redopia e tudo baila em redor!
E diz às folhas caídas: -Bailai comigo, bailai! No quieto chão remexidas, as folhas, por ele erguidas, pobres velhas ressequidas e pendidas como um ai, bailam, doidas chorando, e o vento as deixa, abalando, -e lá vai! ...
O vento é bom bailador, baila, baila e assobia, baila, baila e redopia e tudo baila em redor!
E diz às ondas que rolam: -bailai comigo, bailai! E as ondas no ar se empolam, em seus braços nus o enrolam, e batalham, e os seus cabelos se espalham nas mãos do vento, flutuando, e o vento as deixa, abalando -e lá vai!..
O vento é bom bailador, baila, baila e assobia, baila, baila e redopia e tudo baila em redor!
E diz à chuva caindo: -bailai comigo, bailai! E ao de ela seu corpo unindo, beija-a na boca, sentindo que ela o abraça sorrindo e desmaia, volteando, e já verga ao beijo, e cai, e o vento a deixa, abalando -e lá se vai!..
Cesário diz-me muito:gostava de ferramentas,como eu, e vê-se que para ele o ser feliz era lançar,originais e exactos,os seus alexandrinos, empunhar ferramental honesto cuja eficácia ele sabia que não vinha da beleza,mas da perfeita adequação. Não tem halo,tem elo e o seu encadeado é o verso habilmente proseado.
(Que feliz eu seria,ó prima,se o Cesário me tivesse deixado uma garlopa!) António Nobre,embora seja muito em inho, é o grande Só que somos nós, por isso gosto dele(ai de mim,coitadinho!)
(E em conclusão do megalómano discurso, ó prima,um bilhete-postal para o Pessoa, a quem devemos todos tanto,a prima inclusive!)
Muito querido Pessoa,saberias agora que não basta ser lúcido,merda,que não basta a gente coser-se com as paredes e cercar de grandes muros quem se sonha, que não basta dizer basta de provincianos!
Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranqüila, - Perdida voz que de entre as mais se exila, - Festões de som dissimulando a hora
Na orgia, ao longe, que em clarões cintila E os lábios, branca, do carmim desflora... Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranquila.
E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora, Cauta, detém. Só modulada trila A flauta flébil... Quem há-de remi-la? Quem sabe a dor que sem razão deplora?
viu de noite, ao fulgor das rútilas estrelas, Vail, chefe minaz de bárbara pujança, matar-lhe um animal. Baçus jurou vingança; corre, célere voa, entra na tenda e conta a um hóspede de Ali a grave e inulta afronta. - "Baçus!" - disse, tranquilo, o hóspede gentil - "Vingar-te-ei com meu braço: eu matarei Vail". Disse e cumpriu.
Foi esta a causa verdadeira da guerra pertinaz, horrível, carniceira, que as tribos dividiu. Na luta fratricida, Omar, filho de Anru, perdera o alento e a vida. Anru, que lanças mil aos rudes prélios leva e que em sangue inimigo, irado, os ódios ceva, incansável procura, e é sempre embalde, o vil matador de seu filho, o tredo Mualhil. Uma noite, na tenda, a um moço prisioneiro, recém-colhido em campo, o indómito guerreiro falou severo assim: - "Escravo, atende e escuta: Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta em que vive o traidor Mualhil; dize a verdade; dá-me que o alcance vivo, e é tua a liberdade!" E o moço perguntou: - "É por Alá que o juras?" - "Juro!" - o chefe tornou. - "Sou o homem que procuras! Mualhil é o meu nome: eu fui que despedacei a lança de teu filho e aos pés o subjuguei!" E, intrépido, fitava o atónito inimigo. Anru volveu: - "És livre! Alá seja contigo!"
Para alguém sou o lírio entre os abrolhos, E tenho as formas ideais de Cristo; Para alguém sou a vida e a luz dos olhos, E, se na Terra existe, é porque existo.
Esse alguém, que prefere ao namorado Cantar das aves minha rude voz, Não és tu, anjo meu idolatrado! Nem, meus amigos, é nenhum de vós!
Quando, alta noite, me reclino e deito, Melancólico, triste e fatigado, Esse alguém abre as asas no meu leito, E o meu sono desliza perfumado.
Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora Por mim além dos mares! esse alguém É de meus olhos a esplendente aurora; És tu, doce velhinha, ó minha mãe!