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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

...

No silêncio da ribeira

jaz o resto da brincadeira

que a criançada armou

durante a tarde inteira

em que o pião rodou.

 

Mas o cair da noite

e o escuro vespertino

fizeram perder o tino

e não há quem se afoite

a procurar, ou acoite

o desamparado menino.

 

A escuridão tudo cobriu

e o silêncio emergiu

estendendo-se abafador;

foi então que da noite saiu

um grito de raiva e dor

e, numa luz cega, explodiu

cegando tudo ao redor.

 

J M

...

As mãos escorriam lustrosas

pelas palavras arredias

tentando domar a realidade cruel

 

os refugiados entrechocavam

inábeis e férteis os silêncios breves

prolongamento irascível do tempo incapaz

 

e nos interstícios dos meses

o mediterrâneo sangrento

explodiu em mortes inúteis.

 

J M

Ad hoc

Os espaços embicados da vida

que o tempo amarelo vai carcomendo

deixam restos espalhados pela casa;

 

(e as ratoeiras vazias

testemunham a esperteza

informática dos ratos)

 

e os minutos comem as palavras

dos alfarrábios

tornando-as caruncho.

 

J M

Perguntas

Inócuas mas subsersivas,

as perguntas atiravam-se

à face dos políticos:

as respostas espertas ou "ingénuas"

sempre dirigidas

para não saber o sabor da questão.

Há, porém, perguntas perversas

que exigem respostas prévias,

segurança que à liberdade

não é dado ter.

A liberdade quer-se franca,

frontal e assumida,

opção e arbítrio

num espaço de solidão.

 

J M