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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Balanço de 2015


Está a acabar mais um ano. Este foi imperfeito, quer dizer ímpar! Ímpar no número e ímpar nas oportunidades que me deixou.
Logo no início do ano, recebi a proposta da Direção para fazer uma letra para o hino do nosso Agrupamento. Depois de muitas tentativas lá saiu uma letra aprazível que foi adaptada à música que já existia. (http://blogueexpressao.blogspot.pt/2015/04/hino-do-agrupamento.html ).
Também no primeiro quarto do ano, saiu a primeira experiência “editorial”: um poema meu, com a assinatura JM foi publicado na colectânea da Lua de Marfim Editora intitulada “Poema-me”. (http://blogueexpressao.blogspot.pt/2015/04/jm-e-betty-blue-em-edicoes-de-poesia.html)
Já nos fins de julho foi retomado pela Câmara Municipal da Guarda o projecto pendente da publicação de uma biografia de Nuno de Montemor. O segundo semestre do ano foi passado em investigações e na elaboração definitiva do texto que deu origem ao livro “Nuno de Montemor - alma brava, meiga”, nº 8 da coleção “Gentes da Guarda” e que será apresentado ao público na primeira semana de janeiro.( http://ardaguarda.blogs.sapo.pt/nuno-de-montemor-sabugal-04-01-e-295550 )
Finalmente, o ano de 2015, marcava o centenário de nascimento dos meus pais. Para os homenagear e ficar a recordação deles assinalada de forma mais duradoira, decidi publicar um livro de poesia. A editora escolhida foi a Lua de Marfim e o título proposto foi “A (im)perfeição dos dias”. (http://ardaguarda.blogs.sapo.pt/em-fim-de-gestacao-288383) Começou a preparação durante o mês de Agosto, mas a publicação só foi efectivada em fins de Outubro. Em Novembro e Dezembro foi a apresentação da obra ao público: a 14 de Novembro na Livraria Lua de Marfim, na Amadora (http://ardaguarda.blogs.sapo.pt/apresentacao-na-lua-de-marfim-291312) e a 5 de Dezembro na BMEL, na Guarda.
(http://ardaguarda.blogs.sapo.pt/apresentacao-na-bmel-293401 )
Houve também uma sessão extra na ESAAG, no dia 9 de Dezembro. (http://ardaguarda.blogs.sapo.pt/sessao-na-esaag-294009 )
Na vida não caminhamos sozinhos, por isso esta caminhada foi realizada com a colaboração da família e de muitos amigos. Perdoem-me os que não vou nomear, mas queria destacar alguns que de um modo ou de outro permitiram que este meu último sonho acontecesse: ao Paulo Afonso Ramos editor incansável, simpático e sempre disponível; ao poeta Cristino Cortes que fez a apresentação na Amadora e cujas palavras espero publicar em breve; ao Daniel Rocha cúmplice nas palavras poéticas e sempre disponível no reforço da amizade; ao amigo e colega Antº José Dias de Almeida cujas palavras sábias nos deleitam há muito e cuja sabedoria é inultrapassável; ao Américo que deu vida a alguns poemas e os transformou com a sua leitura; à Emília Costa e ao Joaquim Igreja, amigos de longa data e colegas de profissão, que quiseram mostrar a sua amizade promovendo a sessão na ESAAG. Também um bem-haja sentido a todos os amigos que estiveram nas três sessões e que ultrapassaram as minhas expectativas em termos de amizade claramente manifestada com a sua presença. Por fim, a todos aqueles que não podendo estar fisicamente manifestaram por vários meios a amizade que nos une.
Por todas estas razões o ano de 2015 foi para mim uma dádiva de amizade e criação que me enche de alegria não só pelas publicações realizadas, mas especialmente – reforço – pelas manifestações de amizade recebidas. Obrigado.

Nuno de Montemor - Sabugal (04.01) e Guarda (07.01)

biografia N M.jpg

 

Terra alta de azul e neve, serranias azuis a perder de vista, imensidões vestidas de uma brancura intensa foram as paisagens que vivenciou, percorreu e registou nas suas obras. Desde o berço que nunca enjeitou – Quadrazais – até à cidade que adoptou como sua e que nunca se cansou de exaltar – Guarda – o escritor deambulou pela Beira Serra e aí fixou o seu espaço preferido onde deixou o seu coração de barro espalhado com água de neve. O outro coração feito de bondade, de sentimento, de amor ao próximo, deixou-o na sua melhor obra escrita na cidade da sua alma brava e meiga: o Lactário.
É assim o percurso de Nuno de Montemor / Joaquim Augusto Álvares de Almeida, escritor de livros, pastor de almas e modelador de corações. Forte beirão dado ao seu semelhante, “padre-capelão” querido da cidade, raiano de gema e salmodista da plenitude da vida.

(Sinopse para a BMEL)

Palavras

(18) As palavras são imperfeitas quando tentam dizer aquilo

        que é maior que elas.

(19) São imperfeitas também quando tentam dizer aquilo que parece

        ínfimo, dependendo da proporção.

        Neste caso, as palavras são dedos que tentam apanhar uma

        migalha, fazem a forma de beliscá-la, mas deixam-na  

        lá, como se fossem inúteis.

       (pág. 11)

 

SilenciosQueFalam_JoséLuisPeixoto.png

 

Povoamento

No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera

Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"

Sessão na ESAAG

SESSÃO COM JOSÉ MANUEL MONTEIRO Lançamento da obra na ESAAG

 
 


 
   A partir de uma iniciativa da Biblioteca Escolar e do Clube de Leitura, José Manuel Monteiro apresentou hoje pelas 14h30 o seu livro A (IM)PERFEIÇÃO DOS DIAS na Biblioteca Escolar da ESAAG. Para falar sobre a obra foi convidado pela organização António José Dias de Almeida, ex-professor da mesma escola. Estiveram presentes cerca de 40 pessoas, entre professores, funcionários e alunos. 
    Três alunas do Ensino Secundário recitaram primeiro alguns poemas e depois tomou a palavra António José D. de Almeida que, na sua alocução, explicou a estrutura do livro, salientando as tonalidades da obra, feita de emoções, de ligação à terra, às raízes familiares e aos elementos, e ainda as influências de Pessoa, Torga, Sophia, etc. Salientou também a reflexão em vários poemas sobre o poder da poesia e das palavras. 
    Finalmente, José Manuel Monteiro agradeceu a presença de todos e o apoio manifestado, referindo que a publicação neste momento pretendeu homenagear os seus pais no que seria o ano do centenário do seu nascimento. Focou também a raiz torguiana da insatisfação e da condenação (consciente) a um destino que temos. Leu depois um texto sobre as razões desta edição, que publicaremos num dos próximos posts.
    José Manuel Monteiro tem no prelo uma obra de edição da Câmara Municipal da Guarda sobre Nuno de Montemor, que sairá, em princípio, em janeiro de 2016. 
 
[Retirado daqui: http://blogueexpressao.blogspot.pt/2015/12/sessao-com-jose-manuel-monteiro.html ]

Um livro é uma casa onde cabem muitas vozes - "A (im)perfeição dos dias"

Um livro é uma casa onde cabem muitas vozes. E como há casas grandes, médias e pequenas assim também acontece com os livros. Este é um livro modesto e quer apenas ser o eco de múltiplas vozes que o rodeiam e o tornaram possível. Que o fizeram respirar. Que o fizeram pulsar. Que o fazem permanecer vivo.
Que vozes são essas?
1. a voz da poesia: atraente, sedutora, simbólica, maviosa, denunciadora, laudatória, musical. Os poemas acontecem, como dizia Fernando Pessoa e Sophia Andresen. Surgem, insinuam-se, crescem e amadurecem nas folhas límpidas dos livros. A poesia é a voz da vida.
2. a voz das raízes: somos o que somos porque alguém nos ensinou a ser, a estar, a enfrentar a vida. Somos o que somos porque alguém nos deu a vida e a fala. No sangue, no seio alimentador, no puxão de orelhas na hora certa ficou a marca de quem nos precedeu, de quem nos alimentou a alma e nos ofertou o exemplo a seguir. Quem diz raízes, diz família.
3. a voz dos poetas: que lemos, que nos deliciam ou nos arranham o espírito para nos fazer despertar. A clareza de Sophia, a genialidade de Pessoa, o rigor de Eugénio, o cheiro a urze e a terra molhada de Torga. E quantas mais vozes que continuamente nos arrebatam, nos empolgam, nos levam para o mundo da fantasia poética e literária.
4. a voz da cidade: no frio, na neve, no prosaísmo dos pardais a saltitar, no ruído das ruas a empalidecer com os últimos raios de um sol poente. Nas leituras de Augusto Gil e de Nuno de Montemor, de Vergílio Ferreira e Manuel António Pina, nas memórias de Eduardo Lourenço e de Bonito Perfeito, de Manuel Poppe e de Virgílio Afonso.
5. a voz das pessoas: dos colegas que nos animam, dos alunos que puxam por nós, dos amigos que nos incentivam a registar para o futuro as palavras que mastigamos.
6. a voz da lua: seja ela quem for ou o que for. Ignota e persistente inspiração umas vezes fértil e fluente, outras infértil e perra. Umas vezes em lua cheia de plenitude, outras lua nova desaparecida.
7. a voz da música: as harmonias fecundas que enredam as palavras no doce sabor das ideias.

E mais vozes haveria a enumerar, mas fundamentalmente são estas que percorrem as páginas (cheias) deste livro. Que sejam alívio e conforto nas alegrias ou nas tristezas da vida. Com alegrias e tristezas nasceram porque elas também são a vida. Como a poesia é a vida.

J M (05.12.2015)

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