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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

“Tenho uma pedra na cabeça”

                                      Ao Daniel Rocha

 

O homem ser esquisito

pensa e escreve

Como quem respira o ar quente da noite

Onde as gotas de pedra fazem eco na solidão dos pensamentos.

 

No sótão lugar frio onde os livros

são pedras que se expandem

 e fogem ao tiro natural da Biologia

provoca o sangramento das palavras

e restam-lhe as impressões da tarde.

 

Mas da conjugação dos astros – leia-se influências -

quando o homem chora

antes que seja tarde

surge o escultor de pedras/ideias, estatuário.

 

O poeta, escultor de frases manufacturadas,

grita que é proibido não proibir

e que é preciso matar o abafamento das palavras.

 

Os novos jogadores de xadrez substituem palavras por pedras

e, qual Sísifo, enfrentam o destino

na luta desigual de David e Golias.

 

Presos no labirinto dominam o Minotauro

embora o Narciso interior os faça caminhar

para o domínio de um Eros construtor de imagens

e de sensações persistentes como um formigueiro

em que as ideias são emanadas pelo pó das pedras.

 

Ou, então, - é o poeta quem diz - nada disto!

 

12.02.2015

J M

Perda

 

A tarde alonga-se-me na saudade

De outras curtas tardes de visitas

Alonga-se-me no nada em que ficas

Sozinha para além da realidade

 

Na solidão de uma casa vazia

Onde te reinventa cada recanto

Onde as impressões indeléveis de alegria

Perduram a par de sentido pranto

 

Esses risos essas lágrimas esses gestos

Essas angústias esses beijos essas ternuras

Essas mãos calejadas esse olhar veemente

 

Para sempre estão impressos nesses restos

Que nos deixas e nas ânsias e amarguras

De não te ter mais mas de te ter eternamente.

 

(JM – 14.10.2012)