Brinca enquanto souberes! Tudo o que é bom e belo se desaprende... A vida compra e vende a perdição. Alheado e feliz, brinca no mundo da imaginação, que nenhum outro mundo contradiz! Brinca instintivamente como um bicho! Fura os olhos do tempo, e à volta do seu pasmo alvar de cabra-cega tonta, a saltar e a correr, desafronta o adulto que hás-de ser!
Foi num dia assim de um janeiro distante que o rio da tua vida brotou. Da frieza circunstante apareceu cresceu e mais tarde desaguou noutros cinco rios mais que hoje te continuam e recordam.
Sem hesitação – houve vários sinais – unanimemente concordam que a tua água foi luz para seus periclitantes cursos. Amparaste os seus percursos, aliviaste a sua cruz, e deste-lhes a vida também.
Sim, às vezes, quando a palavra me parece dominada solta-se num movimento instintivo de rebeldia e lá se vai a hipótese do poema.
Quantas voltas à procura do tema e nada! (Sentir que se está vivo e usufruir a alegria de precisar de uma prece!)
Mas a palavra, ave desassossegada, voa livre à procura de um pouso. Paro um pouco, penso e então ouso: desenho-a no ar e ela admirada senta-se no verso em repouso.