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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

POEMA DA DESPEDIDA



Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal, 
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora 
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.

 

 

Mia Couto

 

Vaidosa - Cesário Verde (125 anos)

Dizem que tu és pura como um lírio

E mais fria e insensível que o granito,

E que eu que passo aí por favorito

Vivo louco de dor e de martírio.


Contam que tens um modo altivo e sério,

Que és muito desdenhosa e presumida,

E que o maior prazer da tua vida,

Seria acompanhar-me ao cemitério.


Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,

A déspota, a fatal, o figurino,

E afirmam que és um molde alabastrino,

E não tens coração como as estátuas.


E narram o cruel martirológio

Dos que são teus, ó corpo sem defeito,

E julgam que é monótono o teu peito

Como o bater cadente dum relógio.


Porém eu sei que tu, que como um ópio

Me matas, me desvairas e adormeces,

És tão loira e doirada como as messes,

E possuis muito amor... muito amor próprio.

 

"O livro de Cesário Verde"

este livro

este livro. passa um dedo pela página,
sente o papel como se sentisses a pele do meu corpo,

o meu rosto. este livro tem palavras. esquece as palavras por
momentos. o que temos para dizer não pode ser dito. 

sente o peso deste livro. o peso da minha mão sobre 
a tua. damos as mãos quando seguras este livro.

 não me perguntes quem sou. não me perguntes nada. 
eu não sei responder a todas as perguntas do mundo. 

pousa os lábios sobre a página. pousa os lábios sobre 
o papel. devagar, muito devagar. vamos beijar-nos.


José Luís Peixoto