Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto. Outono... Rodopiando, as folhas amarelas Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...
Por que, belo navio, ao clarão das estrelas, Visitaste este mar inabitado e morto, Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas, Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?
A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos... Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!
E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste, E contemplo o lugar por onde te sumiste, Banhado no clarão nascente do arrebol...
Ver-te é como ter à minha frente todo o tempo é tudo serem para mim estradas largas estradas onde passa o sol poente é o tempo parar e eu próprio duvidar mas sem pensar se o tempo existe se existiu alguma vez e nem mesmo meço a devastação do meu passado.
Que foi dele depois que lhe quebraram as asas? Que foi dele depois que lhe contaram que no seu ombro havia carne? Parou tristonho de voar. E olhou estupefato para os pássaros. Só viu as próprias lágrimas e acreditou que o espaço se houvera transformado em aquário.
E pôs-se a nadar rumo a pátria. Pensava: "Que largo mar seco de praias!" E em volta de si mesmo esvoaçava os braços num esboço de viagem. Então mirou-se no último olhar de poça dagua e descobriu seu rosto pálido lavado com algumas gotas de suor e orvalho. Vestiu tremendo o corpo claro sentiu pudor de sua nudez de asas. Procurou por todo o espaço perscrutou a enxurrada. Pensou: Ah, elas sim reconquistaram as aves".