2009
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ÓPTIMO E FENOMENAL
ANO DE 2009!!!!!
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ÓPTIMO E FENOMENAL
ANO DE 2009!!!!!
A neve pôs uma toalha calada sobre tudo.
Não se sente senão o que se passa dentro de casa.
Embrulho-me num cobertor e não penso sequer em pensar.
Sinto um gozo de animal e vagamente penso,
E adormeço sem menos utilidade que todas as ações do mundo.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Nos últimos anos escasseou e raramente se mostrou cá pelo alto da Serra. Este ano em pouco tempo é a terceira visita: começou de manhã e foi-se acumulando aos poucos. Até o cão lhe achou piada e brincou divertido na brancura do caminho.
Com este pouco ortodoxo poema do nosso poeta (mas o Natal dos nossos tempos também é pouco ortodoxo!!!), aproveito para desejar a todos os passantes e visitadores deste simples blogue uma verdadeira festa de Natal com AMIZADE e um abraço de FRATERNIDADE.
Miguel Torga, Diário
"Quando levantou da cama no lusco-fusco da manhã, com grande espanto seu, deu de cara com uma camada de neve que, embora mansíssima, tão densa viera que estendera sem a mínima quebra o seu lençol pela serra toda. Teotónio não a sentira no seu ninho de feno e o Farrusco parecia tão admirado como ele. De ordinário Teotónio podia de manhã ser surpreendido pela neve, mas não que estivesse inadvertido da sua chegada. Lia-a no cariz do céu, no meneio das aves, nos insectos que suspendiam a zanguizarra, na agitação do cachorro, mais atanazado das pulgas, nas plantas que, muito hirtas e graves, esperam a neve como uma epifania. Já se sabe, não faz barulho nem bate à porta como a chuva, ou como o vento. Mas a ele bastava-lhe o olfacto para a sentir a sete léguas de distância. Observando o horizonte, conhecia se nevava dos lados da Estrela, ou de cantaril, que é a mais dominiosa, ou dos lados de Montemuro a brava e rota. Velhaca e traiçoeira era a que vinha das bandas de suão, tanto assim que lhe chamavam a ladroa. Neve de má raça! Essa não precisava que lhe abrissem as portas, irrompia pelas frinchas e gretas dos telhados sem pedir licença a ninguém. Às duas por três, estava metida na cama com um santo, sem se saber por onde viera. Lá fora, nos braços do cieiro, era uma rascoa de mitra e gaita. Cortava a carne como se trouxesse uma navalha de fadista. Na manhã, o mundo era um lençol de defuntos. O degelo levava às vezes dias. Devagar tomava à sua feição e Teotónio assistia aquilo como ao regresso interessado e impaciente dum cativo.
Às vezes fazia luar e Teotónio especava-se no traço da cabana a vê-la cair, zebrando o céu com a sua farfalha, aquela farinha mal moída que caía sem relego, uma após outra, uma após outra, como se a Lua fosse a moega. Outras vezes, engoiado no casulo de palha, dava fé pelo alicate que lhe aperrava a orelha ou pelo abambar das giestas no tecto da cardenha sob o peso desconforme."
Aquilino Ribeiro, Quando os lobos uivam
"A cidade é um chão de culturas variadas
é fermento corado na masseira de suores
e vida fertilizante poema de dias melhores
é pastor de muitas vidas rebanho de mil cabeças
esperanças semi-desfeitas glórias bem apregoadas.
A cidade é projecção da luta continuada
que todos os dias renasce na certeza do entardecer
porém ao alvorecer quando o sol se levanta
há uma angústia latente no coração dos homens.
A cidade é malícia com bondade à mistura
é antro de solidão ou bar/café de frescura;
lógica entrelaçada nos esgares da paixão
onde perdura a noite na aurora do coração."
José Monteiro, Praça Velha nº 24
Com que então caiu na asneira
De fazer nesta sexta-feira
Dezoito anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!
Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!
Não faça tal: porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa: que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.
Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!
João de Deus
(O poema é do grande poeta João de Deus só lhe fiz as alterações do segundo e terceiro versos para se ajustar à ocasião! Ah! e éramos quase obrigados a sabê-lo de cor na Escola Primária!)
Já lá vão 60 anos, mas o mundo continua submerso nas injustiças e nas desigualdades fazendo jus à velha máxima latina: HOMO HOMINI LUPUS.