Felizmente alguém conseguiu mostrar à sobranceria alemã que o futebol joga-se 90 minutos em campo e com uma bola, não com pressões descaradas sobre árbritos! A Espanha não seria a minha favorita porque eles também são orgulhosos q.b., mas jogaram futebol! Acima de tudo fica na retina um SEÑOR chamado Luis Aragones - que por acaso é espanhol e tem só 70 anos!!!! (Será que não há portugueses bons treinadores para ser preciso ir buscar mercenários?!)
Fui ver a peça e gostei pelo belo texto, pela encenação, pela representação. Valeu a pena! Com a devida vénia transcrevo os textos de apresentação do autor e do encenador.
Os Sobreviventes não fala, apenas, dum amor impossível. O nosso tempo é o tempo da morte do amor. É o tempo da solidão. Do medo. Da fuga. Perdemos o sentido do sagrado, que exige o encontro, a entrega, a coragem do risco. O nosso tempo é um tempo dessacralizado. Os homens falam sozinhos, num deserto, no imenso vazio em que se transformou o mundo. A história de Esmeralda e Gabriel ilustra essa tragédia. E o reencontro deles, malgrado a diversidade que os divide, é um grito desesperado. Agarram-se um ao outro porque sabem que o seu amor, que sempre os aproximou e separou, representa a derradeira esperança. Em frente têm o glaciar - o circo povoado por fantasmas, a sociedade do culto do lucro, do neo-canibalismo, da indiferença. O reencontro representa a última (mas nunca consumada) batalha: querem confrontar-se. Será a única maneira de se recuperarem. Quer dizer: de recuperarem a condição de Pessoa, no universo dos objectos. Nesse universo artificial que está do outro lado das portas que fecham este teatro e em que nós todos nos procuramos, sem sermos capazes de nos vermos nem ouvirmos. Órfãos involuntários, diante do céu gelado de onde expulsámos Deus ou Ele se ausentou.
ManuelPoppe [autor]
"Esta é uma história de amor. Amor excessivo, delirante, interrompido, confuso, traído, promíscuo, louco, mas … amor! Amor vivido intensamente: com o corpo todo. Os músculos, os nervos, a raiva, a sedução e, fundamentalmente, a respiração. Esta é, portanto, uma história simples. Há as palavras que são setas, lâminas, golpes, gestos, feridas, cuspo e sangue. E, acima de tudo, ar. Mas há, também, o corpo daqueles dois, um homem e uma mulher perdidos que, desesperadamente, se querem encontrar. Fazem-no em desespero: violência e acalmia, selvajaria e silêncio. Este é um teatro físico, de corpos que se amam, que se agridem, que se separam, que se esfarrapam. Capazes de tudo: do beijo à asfixia. Estes corpos (que amam, que se amam, que já não sei se se amam) dançam, lutam, rebolam, mordem e respiram como nós. Como se fosse a última oportunidade, a sua última vez. Sobreviventes. Lá fora, o “circo” continua. Implacável sopro mecânico que nos há-de levar à loucura. Digo-o eu, que resisto. Aparece Deus nesta história. Roubaram Deus a Gabriel e Esmeralda. Aqui, Deus é, apenas, uma palavra que nos faz cair. Que nos suspende a respiração. Digo-o eu, que tenho falta de ar."
A emoção é como um pássaro:
Quando se prende já não canta.
Mas se a gente a liberta,
Qualquer janela aberta
Lhe serve para fugir.
O poeta é aquele que numa praça
S. Marcos de Veneza transcendente,
E de todas as praças, praça ainda,
Aguarda na manhã que se insinua
Ou na tarde que finda
O voo que há-de vir.
Ele estende a mão,
Abre-a espalmada
Ao céu,
Que à anunciação de tudo ou nada
A emoção virá ou não
- Sem emoção, toda a poesia é nada -
Fiel à Anunciação que está marcada
Na sua condição.
A vida e os jogos dos quarto de final são parecidos: há sempre uns que ganham e outros que perdem! Para os primeiros há o jogo seguinte, para os últimos há a consolação de um dia poderem tirar a desforra. (Somos tão pequenos que os árbitros gozam connosco: alguém entenderia que a UEFA perdesse milhares de espectadores com a derrota da Alemanha!? - É só um desabafo!)
Manuel Alegre é (quase) sempre polémico, até na maneira como conduz a sua vida. Hoje apetece-me recordar o que ele disse numa entrevista em 2006 (claro depois da vitória sobre a Turquia!):
O futebol é o ópio do povo?
É a festa do povo.
Ou será antes poesia em movimento?
Poesia em acto. Quando há artistas.
É verdade que pode mudar-se de mulher ou de partido, de clube é que nunca?
É verdade. Talvez porque o futebol, como a poesia, não se explica, implica.
O que pensa da angústia do guarda-redes no momento do penalty?
É como a angústia de todos nós perante o mistério da vida. Angústia metafísica.
Pelé, Eusébio, Maradona, Cruyff, Di Stefano, Puskas, que contributo deram para a felicidade da raça humana?
A de fazerem crer que o impossível pode acontecer. A de serem símbolos da beleza, da magia e das vitórias que uns poucos conseguem para todos partilharem.
Que comentário lhe suscita o facto de Eusébio, negro de Moçambique, ser um ícone de Portugal?
Algo de semelhante ao mais belo poema de amor anti-racista - As Endechas a Barbara Cativa, de Camões. Se há uma cultura portuguesa, ela é isso mesmo: antiracista e universalista.
Como define uma finta de Cristiano Ronaldo? Como um verso que surge quando menos se espera, ditado por não se sabe quem.
A Pátria deve rever-se na Selecção Nacional?
A verdade é que se reviu. Os filhos dos emigrantes, por exemplo. Muitos descobriram-na através da selecção. É um estímulo para descobrir as outras dimensões da Pátria.
«Tudo o que sei sobre moralidade e obrigações, devo-o ao futebol». Esta frase de Albert Camus é um exagero?
À primeira vista parece um exagero. Mas é um facto que Albert Camus sabia muito sobre “ moralidade e obrigações “
Como reage ao desdém de uma certa intelectualidade portuguesa perante o fenómeno do futebol?
Com ironia e uma certa piedade. São aqueles que nunca fizeram uma finta nem marcaram um golo. Os que eram escolhidos para a baliza. Ou nem isso.
A cada um dos nomes, faça corresponder um vulto das artes plásticas, da literatura ou do cinema.
Eusébio – Amália Rodrigues
Luís Figo – O Leopardo ( de Luchino Visconti )
Cristiano Ronaldo – Brad Pitt
Rui Costa – Marcello Mastroianni