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Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Ar da Guarda

"Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino." Miguel Torga

Insatisfação

Foz, 3 de Abril de 1950.

VAZANTE

Maré baixa, com lodo e penedias.

Quando a fúria abandona o criador,

Que vazias

As formas!

Que diluída, a cor!

Porque não vem a onda que avassala

E traz o azul à praia, a melodia

Dum coração que bate sem sossego?

Maré cheia — um poema que se lesse

Numa folha espalmada de horizonte,

E fosse a sede e a fonte

De não sei que amargura se sofresse...

Génio!

Vento do céu, anónimo, invisível,

Porque não sopras sobre o corpo morto

Do gigante cansado?

Que triste é o mar despido e adormecido!

E estes ossos sem carne, que pecado!

Diário V